Fonte
MÍDIA: jornal | VEÍCULO: O Globo | DATA: 21/04/2009 | CADERNO: Opinião | PÁGINA: 7

Temas
Violência e medo
Sensação de insegurança
Medo, comportamento e sociabilidade
Morar com medo nas cidades

Notícia
JUNIA DE VILHENA. O desejo de alguns moradores de transformar ruas do Jardim Botânico em um novo Jardim Pernambuco, enclave no Leblon, e a proposta das autoridades para o muramento das favelas merecem reflexões.
Acostumamo-nos com o fechamento dos espaços de convivência, por meio de grades, e assistimos, certamente com repercussões clínicas, a uma inversão histórica da tradição milenar: o que agora causa pânico são os espaços abertos, e não mais os fechados.
Há um medo de andar pelas ruas, como se dos espaços públicos pudessem surgir os demônios das “classes perigosas”. (…)
A cidade tornou-se o lugar do perigo, território conflagrado. Mas não sejamos ingênuos. Grades, cercas e muros instauram um clima de guerra — não são apenas barreiras físicas, mas um discurso que convoca o sujeito não apenas à ultrapassagem, mas ao desvelamento do que existe por trás de tais barreiras. Há aí um desafio, um convite à agressão, por parte daquele que é barrado contra aquele que lhe tolhe o direito de livre movimento.
Recentes pesquisas indicam que o passatempo favorito dos cariocas é o shopping, por ser “seguro”.
(…)
O que é que o laço social vem disponibilizando ao sujeito contemporâneo? O que faz o reconhecimento do outro como semelhante e que permite a vida em comunidade? Trata-se de buscar um território-mundo de valores, direitos e deveres universais, que conviva com os singulares territórios de nosso coletivo. E este mundo não comporta tantas grades, cercas, muros, câmeras: exclusões.
Na paranóia da segurança há uma colonização de nosso imaginário que se rende à inexorabilidade do fechamento, do distanciamento daquele que não mais reconheço como meu semelhante. A privatização do espaço público esvazia o que de político há nele— o espaço aberto para as discussões — a polis.

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