Publicado em 18 de abril de 2003 – Jornal Lig
A arquiteta e professora da UFF Sonia Ferraz desenvolve pesquisa sobre a arquitetura da violência e como isso se reflete no estilo de moradia da classe A, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo. Para ela, o discurso da violência em torno das favelas tem seu significado associado à criminalidade e ao perigo, transformando o aspecto social da favela, que deixa de ser um lugar de moradia para ser de crime e violência. O crescimento da crise econômica e social somado à concentração de renda são fatores desencadeadores dessa situação de exclusão e violência.
Sonia Ferraz estuda os novos modos de morar da elite e como esta se defende da população excluída. Como um dos resultados, destaca que, mais do que mudanças estéticas, a insegurança provoca a apropriação de áreas públicas, com grades invadindo calçadas e tomando o espaço que caberia aos pedestres. O avanço de grades no passeio público gera ainda reclamações de comerciantes vizinhos porque pode provocar problemas de visualização das lojas, causando prejuízo ao comércio.Além disso, está ocorrendo o que ela chama de “medievalização” das construções residenciais, isto é, a incorporação de elementos da arquitetura medieval, como, por exemplo, muralhas, torres de vigia, fossos, portões duplos, trincheiras, muros altos e guaritas.
Na tentativa extremada de manter sua segurança, isso na realidade faz com que as pessoas se tornem prisioneiras em suas próprias residências. Lançamentos de prédios e condomínios dão atualmente ênfase à segurança, procurando minimizar o cerceamento à liberdade por meio de serviços que priorizam, além desta segurança, o lazer e outras opções que favoreçam o bem-estar dos moradores.