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MÍDIA: jornal | VEÍCULO: Folha de São Paulo | DATA: 10/02/2002 | CADERNO: Cotidiano | PÁGINA:
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Morar com medo nas cidades
Medo, comportamento e sociabilidade
Notícia
Estimuladas a fazer um desenho livre, as crianças (de classe média e alta) atendidas no consultório da psicopedagoga Renata Simon, 50, em sua maioria, retratam cenas que, de alguma forma, estão relacionadas à violência urbana. (…)”As crianças se sentem ameaçadas e é importante que elas sejam informadas de que a escola é um local seguro”, diz Renata. Ela ressalta que as explicações sobre as medidas de segurança adotadas pela escola não podem ser passadas às crianças de forma “alarmante” e sim “didática”.
As crianças de classe média, diz Renata, são apresentadas ao medo da criminalidade pelos pais, que dirigem com as janelas do carro fechadas e não permitem que os filhos brinquem na rua .
“Há 20 anos, as crianças não tinham esses medos. Elas brincavam com amigos na calçada sem pensar que alguém poderia assaltá-las ou sequestrá-las”, compara Renata. “A escola é o reflexo da sociedade, e a realidade é o medo da violência.”(…)Raquel relata que o sistema de segurança da escola é um dos fatores que influenciam na hora da matrícula. “A maioria dos pais pergunta que tipo de proteção a escola oferece”, diz ela.
Renata já atendeu famílias que escolheram o colégio dos filhos em razão de a condução escolar ser monitorada por satélite: “Se um pneu furar e a criança atrasar, o pai não entrará em pânico. Localizará a perua e pegará o filho”. Para Raquel, as escolas não podem “ser mais alarmantes do que a mídia”. No entanto ela diz que as crianças que vivem em São Paulo têm de ser “alertadas”. “As crianças de São Paulo já nascem sabendo que janela de carro é para ficar fechada”, diz ela. “Os pais e a escola têm de orientar as crianças a se proteger.”