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MÍDIA: internet | VEÍCULO: Globo.com | DATA: 10/06/2005 | CADERNO: Globo Repórter | PÁGINA:
Temas
Furtos, assaltos, roubos
Medo, comportamento e sociabilidade
Notícia
No extremo norte do Brasil, litoral do Maranhão, fica um refúgio escondido no Oceano Atlântico: a Ilha de São Lucas. A ilha não tem energia elétrica. O jantar é à luz das lamparinas. Em noite de lua cheia, os moradores não dispensam a prosa na porta de casa. Mas essa rotina já foi bem diferente. São Lucas é uma das 15 ilhas do município de Cururupu e como todas elas, não tem policiamento. O acesso é difícil, as ilhas ficam distantes do continente e há pelo menos dez anos a polícia não vai até lá. “A situação aqui estava horrível. Havia muitos marginais, ninguém podia ir à igreja nem sair à noite”, diz a dona de casa Raimunda Rodrigues. (…) Os moradores decidiram reagir. E foi durante uma reunião que nasceu o Grupo de Apoio da Ilha de São Lucas, uma espécie de organização comunitária de combate à violência. (…) Foi justamente dentro de um bar que aconteceu o último assassinato na ilha, dois anos atrás. Por ciúme, um homem esfaqueou o outro e foi levado para a Delegacia de Cururupu pelo Grupo de Apoio. “O próprio Código de Processo Penal autoriza qualquer pessoa que presenciar o cometimento de um crime a tomar uma atitude e entregar o responsável posteriormente à autoridade policial”, diz o delegado de Cururupu, Jarbas Marinho. O delegado diz que, sem a ajuda do grupo, a polícia não teria como prender os criminosos. (…) “Antigamente, ninguém podia deixar uma galinha, um pato, uma calcinha de mulher no quintal porque os bandidos invadiam e levavam. Depois da criação do grupo, podemos até deixar um peixe e ir dormir que ninguém mexe. Foi uma melhoria muito boa na nossa cidade”, constata o pescador José Nemésio Ribeiro. Quem mora hoje na ilha se sente protegido. Uma segurança que permite acolher quem vem de fora sem medo.