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MÍDIA: jornal | VEÍCULO: Folha de São Paulo | DATA: 19/06/2005 | CADERNO: Cotidiano | PÁGINA:

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Condomínio fechado
Medo, comportamento e sociabilidade

Notícia
A tendência ao “enclausuramento” das pessoas em seus condomínios -facilitada pela ampliação da oferta de lazer e serviços nesses locais- pode comprometer a noção de cidadania dessas pessoas, afirmam pesquisadores de ciências sociais e urbanismo. “A cidade é onde os diferentes se encontram. Quem deixa de participar da vida comunitária se torna cada vez mais auto-referente”, afirma o urbanista Renato Cymbalista, do Instituto Pólis.
Essa é a mesma avaliação que Margarida Limena, diretora da Faculdade de Ciências Sociais da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de SP, faz da tendência. “As pessoas têm uma “neura” de segurança e, em vez de exigir que os problemas da cidade sejam resolvidos, retiram essa responsabilidade do poder público, passam a viver em espaços privados e satisfazem seus desejos individualmente. O indivíduo ganha. O cidadão perde”, afirma. Para o urbanista Marcelo Tramontano, professor da USP de São Carlos, o mercado imobiliário estimula o discurso do medo para vender seus produtos. “O mercado tira partido desse medo da população, nem sempre justificado. Não há uma violência generalizada na cidade, mas as pessoas vão ao shopping porque lá é seguro”, diz Tramontano, um dos fundadores do grupo Nomads (Núcleo de Estudos sobre Habitação e Modos de Vida). “Não acho que a tendência das pessoas ao “encasulamento” deva ser estimulada, mas sim que a iniciativa privada e o poder público devem estimular a vida nas ruas dos bairros”, acrescenta. Ele ressalta que essa tendência de privatização de lugares característicos dos espaços públicos, como as praças, existe em São Paulo desde os anos 40. “Isso culminou na construção de Alphaville, nos anos 70, que é uma cidade murada”, diz. “Hoje as pessoas têm outras necessidades (vaidade e saúde) que se formulam como novos objetos de consumo.” (…) Rogério Santos, diretor de marketing da imobiliária Abyara, concorda com a afirmação de que as áreas públicas estão sendo reproduzidas dentro dos condomínios, mas não acha que isso leve os moradores à alienação social. “Mesmo que as pessoas morem num lugar com infra-estrutura, isso não significa que elas não terão acesso às coisas públicas -elas verão no caminho para o trabalho a avenida quebrada, a falta de árvores. Além disso, empreendimentos assim ajudam as pessoas a se conscientizarem de que a cidade pode ser legal. O paulistano está acostumado a ver a cidade degradada e, no condomínio, vê que a organização é possível. Se no microambiente é perfeito, por que fora não pode ser também?”

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