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MÍDIA: revista | VEÍCULO: Época | DATA: 26/07/2004 | CADERNO: | PÁGINA:

Temas
Índices sociais
Furtos, assaltos, roubos
Índices de violência

Notícia
(…) Uma pesquisa inédita realizada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo mediu o que a população brasileira mais temia: a estagnação econômica já teve impacto direto no aumento da criminalidade. O estudo foi feito no município de São Paulo, analisando os 33 tipos de ocorrências policiais mais freqüentes. (…) De 2001 a 2003, o ganho médio dos paulistanos caiu 18,8% e a oferta de trabalho 22%, enquanto nas ruas furtos e roubos a transeuntes aumentaram quase na mesma proporção, 23%.
A pesquisa também revelou que o grau de violência dos delitos pode variar de acordo com o nível de desespero econômico de quem os pratica. Os furtos, que não envolvem ameaça ou agressão direta às vítimas, têm uma relação mais direta com a queda na renda da população.
Se a queda na renda empurra as pessoas para pequenos furtos, o encolhimento do mercado de trabalho nos últimos anos foi acompanhado de perto pelo aumento no número de assaltos, indica o estudo. Cada ponto a mais no índice de desemprego correspondeu a 1,5 ponto porcentualde aumento na incidência de assaltos a motoristas de automóvel, inclusive os que terminam com morte da vítima. (…) A falta de alternativa contribui para crimes cometidos em situação de desespero, nas quais o criminoso é mais agressivo, pensa menos ao agir e também corre maior risco de ser preso. Em dez anos, o número de detentos nas penitenciárias e nos distritos policiais do Estado de São Paulo mais que duplicou – de 55 mil para 125 mil.
Diferentemente do que ocorria em décadas anteriores, o país vive mergulhado no chamado desemprego estrutural. Desde 1996, os índices do desemprego só sobem. O PIB, soma das riquezas produzidas, está praticamente estagnado desde 1997.
Nos últimos três anos, a fatia da população mais afetada pela falta de trabalho foram os jovens entre 18 e 24 anos. O desemprego nessa faixa etária alcançou 53%, enquanto a média para as idades restantes é de 22%. Pesquisas divulgadas pela Fundação Seade/Dieese mostram que a maior taxa de desemprego está entre adolescentes de 15 a 17 anos. Quase 60% deles estão na rua. (…) Segundo a pesquisa da Secretaria de Segurança, o desemprego entre os mais jovens é justamente o que tem uma relação mais íntima com os índices de delitos.
As ocorrências policiais que cresceram com a crise econômica, segundo o estudo da Secretaria de Segurança, são delitos menores do que homicídios ou seqüestros. São aqueles que, segundo os especialistas, constituem a porta de entrada para o crime. (…) Dos internos da Febem paulista, 60% foram pegos por roubo. Cerca de 66% da população carcerária cometeu a primeira infração grave entre 18 e 24 anos. Pesquisas mostram que boa parte dos que entram para o crime em períodos de recessão permanece nele mesmo quando o índice de desemprego cai e os rendimentos médios aumentam de novo.
A crise econômica, indica o estudo da Secretaria de Segurança, também está levando para o crime uma categoria inesperada de pessoas: os homens com mais de 40 anos. Nessa faixa etária, a variação mensal da taxa de desemprego cresceu 38% em três anos – aumentando também os registros criminais desse grupo.

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