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Medidas de segurança
Violência e medo
Morar com medo nas cidades
Notícia
O medo da violência e o descrédito no aparato de segurança do estado fizeram com que a maioria dos moradores recorresse à proteção física – barras de ferro, cercas elétricas, alarmes e até os pré-históricos cacos de vidros nos muros – mas uma pequena parcela dos cariocas ainda vive à moda antiga, como se estivesse nos pacatos anos 50.
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Para Theresa Marino, síndica de um prédio na Rua Barão da Torre, no mesmo bairro, além de macular a fachada, as grades reduziriam ainda mais o espaço exíguo entre a portaria e o meio-fio naquele pedaço da rua.
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Até hoje, os sobressaltos da escritora [Violeta Telles Ribeiro, de 91 anos], que vive com filhos e netos, limitaram-se a flagrar um pobre coitado escarafunchando as coisas em sua garagem.
– Minha mãe passou um sermão no ladrão, que saiu de cabeça baixa – conta Isadora, uma das filhas.
Violeta lembra da frase de seu pai, quando perguntado se não levantaria o muro, já no início da maré de insegurança carioca, nos anos 80.
– Ele dizia que queria sentar aqui na varanda e ter o prazer de ver a vida passando na rua. É filosofia da família até hoje.
Quando se lembra de contar ao repórter que a casa ao lado da sua, mesmo com grades e muro alto, foi assaltada, Violeta desfia mais um argumento.
– Muros e grades só atraem o ladrão. Se você deixa a porta aberta concluem que não há nada para roubar – conjectura a anciã.
Por incrível que pareça, foi ela quem chamou a polícia quando assaltaram também o prédio em frente ao seu oásis de tranquilidade. Um dos moradores escapou para a marquise e acenou para a vizinha, sempre tranquila em sua varanda.
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José Moreira dos Santos instala grades em prédios e em residências há 25 anos. Mas foi entre 1992 e 1996 que seu negócio floresceu. Era o auge da onda de sequestros no Rio e a paranóia da insegurança disseminou-se entre a população.
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No entanto, há outras opções para os que querem se encastelar. Rafael Azevedo, da Vitaltech Telecomunicações e Informática, vende e instala alarmes e cercas eletrônicas, essas idealizadas para dar um choque de até 12 mil volts no chamado amigo do alheio. Mas é só um susto, porque, como a corrente é baixa, o ladrão apenas é expelido do muro sem maiores danos à saúde.