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MÍDIA: jornal | VEÍCULO: Folha de S. Paulo | DATA: 01/01/10 | CADERNO: Cotidiano | PÁGINA: C3
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Medidas de segurança
Preço da segurança
Notícia
Além dos tradicionais conselhos sobre cuidados com as bolsas, celulares e veículos, a PM passou a orientar neste ano que os turistas do litoral incluam nos procedimentos de segurança a elevação dos muros e mudança de portões de suas casas.
Essa mensagem é levada pelos oficiais da corporação por meio de jornais, rádios e TVs diante do crescente número de roubos às casas de veraneio. A PM não informa, porém, o número de roubos à residência registrados nesse período.(…)”Quando as casas foram construídas não tinha esse fenômeno [de roubos à residência]. Os muros são extremamente baixos, normalmente o portão para entrada de carros é de madeira e o acesso é absolutamente fácil”, disse.”Se for possível, construa um muro um pouco mais alto com grade de proteção, que impeça o acesso. Se houver terreno baldio ao lado, o muro deve ser ainda mais alto, além da tela de proteção, ou uma concertina (rede de arame farpado).” [o coronel Sérgio Del Bel, indicado pelo comando da PM para falar sobre a Operação Verão].(…)A recomendação foi criticada pelo administrador de empresas Marcelo Robba, 39, que possui uma casa em Paúba (litoral norte de SP). “A segurança tem de ser garantida pela polícia e instituições públicas. Querem que a praia vire São Paulo, cheia de muros?”.Outro conselho dado pelo policial é a de uma relação de companheirismo e cumplicidade entre vizinhos, para que um ajude o outro numa eventual ação de bandidos. Quando um perceber algo estranho na casa ao lado, ele deve acionar a PM.Para José dos Reis Santos Filho, do Núcleo de Estudos sobre Violência e Políticas Alternativas da Unesp, a elevação de muros nas casas de praias e adoção de outros mecanismos de segurança podem provocar efeito inverso e levar ao rompimento dos “laços de solidariedade” entre os vizinhos.
“Se o que tenho de fazer é colocar um pit bull, aumentar o muro e colocar cerca elétrica, não preciso mais da vizinhança. É a pior coisa que a PM poderia orientar”, completou.Avaliação parecida tem o sociólogo da USP Álvaro de Aquino e Silva Gullo, para quem a elevação de muros só cria uma “mistificação de segurança”.
Para Gullo, o paulistano deve se precaver diante da violência (“a praia de hoje não é a praia de antigamente”), mas mudar a arquitetura não resolverá o problema. “Você transfere para a praia o estilo de vida de preso da cidade de São Paulo.”Outro que diz ver com “tristeza” a arquitetura refém da violência é o vice-presidente da Asbea, José Eduardo Tibiriçá.”Perdemos a guerra. Em São Paulo, você circula entre muralhas. Antigamente, as pessoas homenageavam a cidade com os jardins. Perdemos isso”, disse ele. “O cidadão livre tem de ser a fonte e o objeto das preocupações. Não a violência.”