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MÍDIA: Revista | VEÍCULO: Isto É Online | DATA: 01/12/2004 | CADERNO: | PÁGINA:
Temas
Violência e medo
Morar com medo nas cidades
Sensação de insegurança
Notícia
Violência fecha o cerco, dribla segurança e ameaça população dentro e fora de casa. Na mesma rapidez em que os muros sobem, em que se blindam carros e que parafernálias eletrônicas são vendidas na tentativa de garantir segurança e aplacar o medo daqueles que podem pagar por isso, cresce a violência no País e a certeza de que ninguém está seguro.(…)
Segundo Nanak Kakwani, diretor do Centro Internacional de Pobreza (órgão ligado ao Pnud), são 24,3 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza. O certo é que, enquanto se empurra com a barriga essa questão político-econômica e se discute segurança pública pela ótica da repressão (mais armas, mais viaturas,mais policiais, mais cadeias), a resposta que virá do outro lado será de mais violência. O medo tornou-se o mais democrático dos sentimentos. De A a Z, é impossível sentir-se seguro em casa, na rua, dentro do carro, dos ônibus, andando a pé, e até no trabalho.
Em São Paulo, Estado que representa 35% do PIB nacional, 3,6 milhões de pessoas moravam em áreas de extrema pobreza em 2000, revela estudo da Fundação Sead. É justamente na cidade mais rica do Brasil que o crime se voltou para uma modalidade mais lucrativa e menos arriscada, comparado ao sequestro e ao roubo de cargas: o assalto a condomínios de luxo.(…)
Como não há registros oficiais específicos sobre roubo a condomínios, setores responsáveis em planejar segurança pessoal, empresarial e patrimonial avaliam que a média de assaltos a prédios em São Paulo, desde janeiro de 2003, está na casa de 20 (nível médio) por semana. (…)
Para Ricardo Chilelli, consultor de segurança, os profissionais do sequestro, assalto a banco e roubo de cargas estão migrando para o roubo de condomínios de luxo, pois a rentabilidade é maior e o risco de serem presos é menor. (…) Mas o preço para morar em grandes capitais, além da poluição e congestionamentos, é a violência.(…) Para a vice-coordenadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP, a psicóloga Nancy Cardin, a paranóia da segurança e o aumento da procura por moradias consideradas menos vulneráveis é uma sobrevivência psicológica porque achar que não se pode fazer nada contra a violência é muito ameaçador. “Cada um usa o repertório (blindagem, vigilância eletrônica, etc.) que o bolso permite. Na periferia já se vêem muros altos, cães que são ameaças à própria família e porteiros eletrônicos. Uma das únicas coisas democraticamente distribuídas na sociedade é o medo”, afirma.(…)