Publicado em 7 de abril de 2003 – Jornal O São Gonçalo
Por Arthur Rosa
Fossos com água e uma ponte passando por cima deles. Muros de pedras gigantescos, grades e guaritas. A cena digna da arquitetura medieval se mostra atual nas construções deste milênio. A conclusão é da professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e arquiteta, Sonia Ferraz, que desenvolveu um estudo sobre a arquitetura da violência e como isso reflete no estilo de moradia da classe A, especialmente no Rio e São Paulo.
A pesquisa começou a ser feita em meados do ano passado e teve origem a partir da tese de mestrado da professora sobre exclusão social como conseqüência da concentração de renda. “Fui percebendo que as classes dominadoras acabaram se tomando vítimas da violência provocada pela exclusão feita por elas mesmas. E isto fica explícito nas construções que vêm surgindo”, explica Sônia. Munida de uma máquina fotográfica, ela flagrou prédios e casas que foram baseadas na idéia de segurança máxima. A pesquisa começou a ser feita em meados do ano passado e teve origem a partir da tese de mestrado da professora sobre exclusão social como conseqüência da concentração de renda. “Fui percebendo que as classes dominadoras acabaram se tomando vítimas da violência provo- cada pela exclusão feita por elas mesmas. E isto fica explícito nas construções que vêm surgindo”, explica Sônia. Munida de uma máquina fotográfica, ela flagrou prédios e casas que foram baseadas na idéia de segurança máxima.
A “medievalização” das construções residenciais é comprovada através da in- corporação de elementos como muralhas, torres de vigia, fossos, portões duplos e trincheiras. Na Barra da Tijuca, um condomínio em frente à praia é o retrato fiel do que vem acontecendo. Antes de entrar no conjunto residencial, o pedestre ou motorista precisa passar por uma ponte que passa sobre um fosso. Quem se aventurar à pular este fosso irá se deparar com uma parede de vergalhões, que impossibilita sua escala- da. “Na tentativa extremada de manter a segurança, isso, na realidade, faz com que as pessoas se tornem prisioneiras em suas próprias residências”, atesta a professora.
Em Niterói, o exagero não chegou a tanto, mas os moradores também estão preocupados com a violência. Os prédios e casas abusam das grades, cercas e guaritas. Sônia e sua equipe repararam que as grades deixaram de ter a função estética dos tempos antigos para serem instrumentos de defesa. Algumas construções, segundo a arquiteta, estão adotando o sistema “double-safe”, que consiste em uma espécie de gaiola onde o visitante ou morador fica preso até ser feita sua identificação. O sistema é o mesmo usado em presídios de segurança máxima.
Outro detalhe observado no estudo é que a insegurança vem provocando mudanças estéticas no mobiliário urbano. Alguns condomínios promovem a apropriação de área públicas com grades invadindo o passeio público. Ao longo da Rua Lopes Trovão, em Icaraí, é possível reparar que alguns condomínios adotaram essa prática estendendo suas grades. “Isto nada mais é do que desculpas para aumentar os espaços privados”, explicou Sônia. A conclusão que a professora chegou com os estudos é que o crescimento da crise econômica e social somado à concentração de renda são fatores desencadeadores dessa situação de exclusão e violência. E as novas moradias foram a forma da elite se defender da população excluída. “A pergunta que fica no ar é se todo este aparato de segurança muda alguma coisa na vida das pessoas. Isto apenas alivia a sensação de insegurança, mas não implicará em nada na questão da redução da criminalidade”, ressaltou.

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