Ao se fechar em casa, população abandona os espaços públicos, que podem se degradar

Publicado em 4 de agosto de 2005 – Jornal Gazeta do Povo
O coordenador do curso de Arquitetura da Universidade Federal do Paraná, Sílvio Parucker, afirma que o enclausuramento dos cidadãos dentro de suas casas não é benéfico para a sociedade como um todo. Segundo ele, ao se criar espaços privados pretensamente seguros, as pessoas de certa forma abandonam o ambiente público, que corre o risco de degradar-se e de ser apropriado pela marginalidade. “A rua passa a ser de ninguém.”
Parucker diz que as casas que se inserem no ambiente da vizinhança – ou seja, que permitam a visualização da rua e dos vizinhos – podem ser um importante elemento para a segurança da comunidade. Residências sem muros altos permitem que se veja o que está acontecendo na rua e que se possa, eventualmente, observar e denunciar um assaltante que tenta entrar na casa de um vizinho. “O ideal seria que cada um pudesse cuidar da segurança de sua própria comunidade.”
O arquiteto ainda lembra que a segurança pública deveria ser garantida pelo estado e não por meio de projetos arquitetônicos. “Não é a arquitetura que vai resolver o problema da violência”, diz Parucker. A arquiteta Sônia Ferraz afirma ainda que a sociedade precisa resolver o problema da concentração que renda, que acaba opondo aqueles que ganham muito aos que nada têm.
(Fernando Martins)

VIOLÊNCIA – http://www.ondarpc.com.br/gazetadopovo/parana/conteudo.phtml?id=482721 consultado em 20/10/2005

 

Equipamentos de segurança podem custar mais que o imóvel

Estimativa indica que gasto com aparelhos em casa de 200 metros chegaria a R$ 260 mil

O custo para se instalar toda a parafernália de segurança disponível no mercado em uma residência pode ser mais alto do que o valor do próprio imóvel. A arquiteta Sônia Ferraz, da Universidade Federal Fluminense, fez uma estimativa de qual seria o custo da incorporação de todos os sistemas e equipamentos de segurança em um projeto de uma casa de 200 metros quadrados que custaria, só do ponto de vista da obra de engenharia, R$ 200 mil. O investimento para montar uma verdadeira fortaleza acrescentaria ao custo final mais R$ 260 mil.

Isso incluiria, diz Sônia, equipamentos de alarme, sistemas de monitoramento por câmeras, sensores de presença, blindagem de portas e até mesmo a instalação de um quarto do pânico – ambiente totalmente blindado onde uma família pode se enclausurar, em caso de invasão do domicílio por marginais, durante até uma semana sem que os invasores possam entrar no local.
Mas na prática isso ainda está muito longe de ocorrer. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon), Júlio Araújo Filho, estima que, em média, o custo de sistemas de segurança nas novas edificações fica em torno de 2% a 3% do custo total da obra. “Mas é claro que pode ser bem mais alto. Depende da exigência do comprador.”
(Fernando Martins)

VIOLÊNCIA http://www.ondarpc.com.br/gazetadopovo/parana/conteudo.phtml?id=482723
consultado em 20/10/2005

Insegurança faz imóveis modernos se assemelharem a castelo medieval

Muralhas e torres são alguns dos elementos presentes hoje em residências

Muralhas altas para impedir a invasão de inimigos; torres de vigilância elevadas que permitam a observação de tudo o que está acontecendo aos pés da edificação e que possa representar uma ameaça; portões duplos para garantir mais segurança. Essa descrição pode muito bem ser a de um castelo medieval – fortaleza construída para impedir a entrada de exércitos conquistadores. Mas na verdade refere-se a algumas casas, edifícios e condomínios contemporâneos das grandes cidades. A violência urbana tem feito com que as edificações modernas incorporem soluções arquitetônicas da Idade Média – época histórica marcada pelo constante risco de guerras e de invasões às cidades.

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“Na Idade Média, as cidadelas se fortificavam para evitar a invasão de bárbaros”, afirma a arquiteta Sônia Ferraz, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Hoje, as pessoas tentam defender suas casas por causa da crise da segurança pública”, acrescenta.
Sônia coordena uma pesquisa sobre a relação entre a violência e a arquitetura. Uma das conclusões do estudo é justamente a de que está ocorrendo uma incorporação, nas construções atuais, de elementos medievais de proteção, tais como as muralhas, torres de vigia, paliçadas, seteiras, portões duplos e até mesmo de fossos (veja infográfico). A pesquisa da UFF está sendo realizada no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas em Curitiba já é possível observar residências e condomínios com alguns desses elementos, em bairros nobres.
O arquiteto Sílvio Parucker, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), concorda. “Em certo sentido é uma volta à Idade Média, quando as comunidades estavam enclausuradas em feudos”, diz ele. Segundo Parucker, existe uma tendência moderna de as pessoas se fecharem em suas casas por considerarem o ambiente externo ameaçador, sobretudo à noite. “Os muros altos e os condomínios fechados são exemplos disso”, diz o arquiteto.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon), Júlio Araújo Filho, confirma que a procura por condomínios fechados tem crescido nos últimos anos, motivada sobretudo pela questão da segurança. “É um dos poucos setores da construção civil que estão pujantes.” Segundo ele, os compradores de imóveis também têm exigido cada vez mais sistemas de segurança.

Penitenciárias

A professora Sônia Ferraz afirma ainda que, por conta da insegurança pública, também estão sendo incorporados às residências sistemas de proteção adotados em penitenciárias. As grades nas janelas – que servem tanto para impedir fugas como para evitar invasões externas – são o exemplo mais comum. Mas outros elementos começam a aparecer, como o arame farpado ou rolos de “arame-ouriço” colocados sobre os muros. Esses rolos estão tornando-se extremamente comuns em bairros curitibanos como o Jardim Botânico. A tecnologia eletroeletrônica igualmente tem permitido uma profusão cada vez maior de alarmes, cercas elétricas e sistemas de monitoramento por câmeras.
O arquiteto Humberto Mezzadri, professor de Arquitetura da UFPR, observa ainda que o medo tem provocado mudanças significativas nas características arquitetônicas de Curitiba. “Era comum casa com uma cerquinha de madeira ou com um muro baixo. Hoje, vemos muralhas, grades”, diz Mezzadri. Outro elemento que vem sendo esquecido são as varandas na frente das casas. Segundo o arquiteto, até a década de 60, eram comum as pessoas colocarem cadeiras nas varandas para receber as visitas. Mas devido à violência urbana, as pessoas deixaram de usar as varandas e os novos projetos arquitetônicos as abandonaram.
(Fernando Martins)

VIOLÊNCIA – http://www.ondarpc.com.br/gazetadopovo/parana/conteudo.phtml?id=482726 consultado em 20/10/2005

Estatísticas são mantidas em sigilo

A reportagem da Gazeta do Povo procurou a Secretaria Estadual da Segurança Pública e a Polícia Militar e solicitou dados sobre a evolução histórica de assaltos a residências em Curitiba e no Paraná. Mas os dois órgãos não disponibilizaram informações sobre esse tipo de crime. O objetivo da reportagem era verificar se o medo da população em ter a casa invadida, materializado nas mudanças arquitetônicas, tem respaldo nas estatísticas da segurança pública.
A Secretaria da Segurança informou, por meio da assessoria de imprensa, que não dispõe de dados específicos sobre assaltos a residências. Segundo a assessoria, esse tipo de crime é elencado dentro da classificação estatística “roubo e assaltos”, que não distingue o que é praticado na rua ou em domicílios.
A secretaria ainda orientou a reportagem a procurar a PM para tentar obter os dados. Na Polícia Militar, a assessoria de comunicação informou que dados recentes e específicos sobre segurança pública não são divulgados para não prejudicar o planejamento das operações policiais que devem ser deflagradas a cada 15 dias. A determinação de promover operações especiais a cada duas semanas é do governador Roberto Requião. Quanto aos dados históricos, a PM informou que o sistema de processamento de dados estava fora do ar e não seria possível disponibilizá-los até o fechamento da edição.
(Fernando Martins)

VIOLÊNCIA – http://www.ondarpc.com.br/gazetadopovo/parana/conteudo.phtml?id=482726 consultado em 20/10/2005

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