Autores
Edson dos Reis Possidônio – Bolsista de Iniciação Científica – CNPq
Fabiana de Matos Carvalho Cabral – Bolsista de Iniciação Científica – CNPq
Geisa Matos Lages – Bolsista de Iniciação Científica – Faperj
Ramon Fortunato Gomes – Bolsista de Iniciação Científica – Faperj
Priscila Soares da Silva – Bolsista de Iniciação Científica – Faperj
Orientadora
Profª Drª Sônia Maria Taddei Ferraz
Evento
Apresentado:
– FORUM AMÉRICA LATINA HABITAR 2000 – Proposta para Mostra de Painéis Livres – Eixo Temático 1 – Salvador – maio de 2001
– I Congresso de Iniciação Científica em Arquitetura e Urbanismo – CICAU – João Pessoa – junho de 2001
Premiado com Menção Honrosa

Resumo

A exposição, em dois painéis produzidos por meio eletrônico, digitalizados, mostrará duas formas e padrões de moradia nas metrópoles – dos miseráveis e das elites – caracterizadas pela dupla exclusão: a exclusão social dos miseráveis sem acesso à moradia e a auto exclusão nos bairros de alta renda concretizada pelos elementos, equipamentos e aparatos de proteção e segurança. Essa é uma oposição que revela estratégias das elites que se utilizam recursos de defesa contra possíveis ameaças, entre elas a representada pela própria miséria visível dos Sem Teto, que multiplicam diariamente sua ocupação dos mais variados espaços da cidade.
O conjunto de imagens expostas mostra um perfil de cidades sitiadas refletidas nas relações sociais de exclusão e de isolamento, envolvidas por um quadro de violência crescente e o conseqüente estabelecimento de novas formas de convivência, cada vez mais excludentes.
De um lado, será exposta, a superposição de fotos jornalísticas, em preto e branco, que testemunham a grande diversidade de improvisos que marca a miséria habitacional. De outro, diversas fotos, em cor, selecionadas entre os quase mil registros in loco realizados pela equipe da pesquisa, que, por sua vez, testemunham a grande diversidade de confinamentos em habitações de alta renda no Rio de Janeiro e São Paulo.
Entre os dois quadros, será inserido um conjunto de chamadas e títulos extraídos do discurso mediático diário que noticia o crescimento da violência associado ao crescimento da miséria. São discursos produtores do sentido de perigo e vulnerabilidade relacionados aos patrimônios particulares e às vidas dos “outros” moradores das metrópoles (os ricos), estimulando a intensificação de sua exclusão territorial em “mundos” particulares, fazendo-os alterar a prática das relações de convivência coletiva, importante característica da vida na cidade.
As imagens e textos mostram, como síntese, que, ao mesmo tempo em que uma grande parcela de miseráveis encontra abrigo sob viadutos, marquises, prédios abandonados, “cavernas” urbanas etc, as classes de alta renda constroem verdadeiras fortalezas habitacionais cercadas de grades, muros altos, guaritas blindadas, transformando suas casas em gaiolas e até mesmo se reapropriando de algumas formas construtivas medievais. Residências foram transformadas em bunkers, ruas foram fechadas ao trânsito e verdadeiras milícias foram contratadas para dar segurança aos mais abastados. São formas que, certamente, contribuem para uma exclusão social ainda maior, não só para os que estão do lado de fora, mas também para os que se isolam da realidade circundante.
Essas construções fortificadas, que vêm constituindo uma tipologia habitacional nas metrópoles, significam não só proteção, mas também o acesso a um diversificado e requintado tipo de “luxo”, como aponta Enzensberger em seu texto sobre os luxos do fim de século: “A segurança, ela é provavelmente o mais precário de todos os bens de luxo. …Quem se muda para o bairro dos ricos, logo pressente que luxo do futuro não promete um puro desfrute. A exemplo do passado, ele não ensejara apenas liberdade, mas também coerções.”
A tentativa de se manter cada vez mais a salvo da violência tem gerado, portanto, entre consumidores “privilegiados”, novos modos de habitar na cidade estabelecendo outras relações sociais e de trabalho, uma vez que todo esse aparato de segurança, utilizado nos prédios de luxo, precisa ser mantido, fabricado e supervisionado, significando oportunidade de trabalho e fonte de lucro para muitos. Pode ser incluído aqui o mercado imobiliário que aposta, para vender, nos apelos que afirmam que “Viver bem é Viver seguro”, oferecendo “Segurança Total” ou “Segurança Máxima”.
Essa violência localizada entre espaços e pessoas nas metrópoles surge construída por discursos alarmantes e exaustivos na imprensa e em outros veículos de comunicação, que se apropriam das estatísticas, exagerando o quadro, contribuindo para produzir um “apartheid” cada vez maior, intensificado pelo medo e pela construção sistemática do referido sentido da relação direta entre crime e pobreza.
O exagero parece produzir o paradoxo entre segurança e sensação de segurança e ajuda a crescer um mercado que se expande e se multiplica à custa da sensação de medo e da necessidade de proteção e conseqüente auto exclusão.
Entre recortes e fotos, os textos teóricos deverão refletir ou questionar esse quadro metropolitano e serão interpostos para auxiliar a compreensão do sentido da construção visual proposta.
Essas citações textuais, intercalando imagens, deverão trazer questões, por exemplo, sobre a relação entre acumulação de capital e adensamento demográfico, sobre acirramento das desigualdades, ou sobre efeitos do medo da violência, com o propósito de estimular, através das contraposições e interelações, a reflexão sobre a questão habitacional nas metrópoles brasileiras no final do século XX.
A reflexão proposta parte da noção de que a imagem da cidade é, reflexo das relações sociais que nela se configuram, como aponta Milton Santos: “… Não se pode interpretar o espaço . O espaço é um fato social no sentido de que é um fato histórico, é produtor e produto; determinado; um revelador que permite ser decifrado por aqueles a quem revela; ”.
Pesquisa financiada pela FAPERJ -Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro

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