A pesquisa “Arquitetura da Violência”, iniciada em 2000 com o apoio financeiro da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), trata da investigação de como a violência tem “desenhado” um novo padrão funcional e formal de arquitetura e de cidade, em particular da habitação, nos dois maiores centros urbanos nacionais: Rio de Janeiro e São Paulo. Arquitetura da “Violência” sendo, portanto, entendida como a que visa promover a segurança patrimonial/habitacional.
As análises iniciais partiam de noticiários jornalísticos sobre exclusão x violência x medo, de exemplos significativos da publicidade imobiliária, veiculada nos jornais impressos, cariocas e paulistas, nas últimas décadas e da oferta dos serviços, materiais e equipamentos de segurança, além de um conjunto de registros fotográficos de imóveis residenciais de alta renda.
É na mídia, sem dúvida, que as manifestações sobre a questão da violência nas cidades têm encontrado campo fértil para o seu fomento. Ao mesmo tempo, a promoção da proteção e segurança pessoal e patrimonial movimenta cada vez mais um mercado de proporções consideráveis. A leitura atenta do noticiário jornalístico comprova que o tema da violência aflora tanto em matérias que envolvem populações e territórios excluídos em todas as grandes cidades do mundo, quanto em estatísticas que revelam o seu crescimento nessas mesmas cidades, o que aponta alterações de padrões comportamentais com repercussões imediatas no planejamento urbano e na arquitetura.
Desde 2009, a pesquisa tem se desdobrado também na análise das intervenções urbanas do poder público, no que concerne às políticas de segurança pública na cidade do Rio e Janeiro. Intervenções essas que expressam o quadro dos conflitos sociais pelo direito à cidade, com a recorrente superposição entre políticas de segurança para as elites e desrespeito aos plenos direitos das classes pobres e miseráveis. As análises estão particularizadas nas intervenções de cercamento das favelas cariocas, nas concomitantes operações do Choque de Ordem e instalação de postos de Polícia Pacificadora – UPPs, acompanhados da velha remoção de favelas.
O noticiário jornalístico tem anunciado e enunciado essas intervenções como planejamento do espaço urbano, proteção ambiental, combate à criminalidade, embelezamento da cidade e, sobretudo, como uma ação de “pacificação” para todos, as aproximando do modelo da limpeza urbana/humana aplicada nas cidades do Terceiro Mundo em preparação para grandes eventos internacionais. A aproximação da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 parece se oferecer, portanto, como a legitimação necessária para, através da “guetificação”, confinar e controlar a população favelada, no horizonte da adequação urbana aos acontecimentos relacionados aos megaeventos esportivos.